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Como utilizar o treinamento hipóxico em natação para melhorar a performance

Figura. Técnicos e professores de natação têm se utilizado da natação equipada para o aperfeiçoamento de seus alunos e atletas. (a)


Como utilizar o treinamento hipóxico em natação para melhorar a performance (b)

Prof. Roberto Trindade Sobrasa

Palavras-chave: apneia, hipoxia, respiração, treinamento hipóxico, natação equipada

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RESUMO

No mundo inteiro diversos técnicos e professores de natação têm se utilizado da natação equipada (Figura) para o aperfeiçoamento de seus alunos e atletas, sempre com bons resultados. Um dos métodos de treinamento utilizados e que produz performances interessantes dentro desse contexto é o treinamento hipóxico. O treinamento hipóxico é um método de preparação orgânica que visa fundamentalmente a capacidade anaeróbia, embora também tenha implicações relativas na melhoria da capacidade aeróbia. Segundo Tubino (1), o treinamento hipóxico foi primeiramente empregado no atletismo, para posteriormente ser também aplicado em maior escala na natação.

INTRODUÇÃO

Para Counsilman (2) quando um atleta inspira menor quantidade de ar, o nível de débito de oxigênio é aumentado, o que provoca adaptações fisiológicas muito importantes, favorecendo aos atletas criar condições de obtenção de um volume maior de oxigênio do ar inspirado.

O débito de oxigênio aumentado por uma menor frequência respiratória reduz as possibilidades de respiração a nível celular. Assim, o treinamento hipóxico cria condições para que os atletas possam extrair mais oxigênio por unidade de volume ventilado nos pulmões. Em termos comparativos, o treinamento com a utilização de respiração hipóxica alcança níveis mais elevados de débito de oxigênio, de lactato sanguíneo e de ácido lático nos músculos do que o treinamento efetuado com a mesma intensidade e com o uso da respiração normal.

REVISÃO

Astrand e Rodhahl (3) afirmam que a capacidade do corpo em armazenar oxigênio é extremamente limitada, em tomo de um litro. Nos pulmões, após inspiração normal pode haver cerca de 0,5 litros de oxigênio e após inspiração máxima pode chegar a aproximadamente um litro.

Quando alguém prende a respiração em repouso existe e pode ser utilizado um total de aproximadamente 600ml de oxigênio. Em tese, é suficiente para durar cerca de 2 minutos. A seguir a pressão parcial do oxigênio cai para cerca de 75 a 50mm Hg E a pressão parcial do dióxido de carbono sobe para 45 a 50mm Hg. Essa pressão de dióxido de carbono elevada desempenha um importante papel em forçar o indivíduo a parar de prender a respiração. O impulso hipóxico constitui também um fator importante, conforme demonstrado pelo fato de que o bloqueio respiratório pode ser prolongado quando precedido por um período em que se respira oxigênio puro.

Sparks (4) em uma investigação realizada na Universidade de Indiana, submeteu dois grupos de nadadores a treinamento intervalado, sendo um deles associado ao treinamento hipóxico. Ao final do plano de investigação o autor constatou que o grupo hipóxico demonstrou após um mesmo período de preparação uma melhor capacidade de absorção de oxigênio que outro grupo.

Tal trabalho sugere a hipótese de que o treinamento hipóxico pode ser comparado a uma preparação efetuada em altitude, onde o ar rarefeito exige mecanismos compensatórios ao nível do aumento adicional na ventilação pulmonar, de uma maior concentração hemoglobínica e de alterações morfológicas e funcionais nos tecidos.

Hollman e Liesen (5) realizaram uma pesquisa a respeito dos efeitos do treinamento hipóxico em 36 pessoas que respiraram uma mistura de ar com somente 12% de oxigênio (a porcentagem normal é de 21 %) pedalando em bicicleta ergométrica. O resultado obtido foi que a quantidade máxima de oxigênio absorvido por minuto subiu no grupo hipóxico, melhorando em 16,6%, diferença essa considerada significativa. Não se pode, contudo, detectar aumento apreciável no número de eritrócitos (células vermelhas do sangue) nem no conteúdo de hemoglobina. Outras pesquisas fazem-se necessárias.

Counsilman (2) baseia-se na pesquisa de Hollman e Liesen (5) para reforçar-se na afirmação de que os músculos de atletas que treinaram hipoxicamente dispõem de menor quantidade de oxigênio.

A partir dessas pesquisas este autor formula as vantagens fisiológicas do treinamento hipóxico:

  • 1- Economia da distribuição sanguínea intramuscular;
  • 2- Indícios de melhoria na vascularização dos músculos;
  • 3- Aumento da capacidade metabólica intracelular que pode ser explicada por um maior número de mitocôndrias, mais glicogênio armazenado nos músculos, e mais enzimas para liberar o ATP.

Foi ainda este autor (2) quem formulou a hipótese de que nadadores, iniciando o período de preparação, sofrem poucas modificações ao nível da frequência cardíaca com o treinamento hipóxico, constatando que a diferença para o treinamento normal não é significativa.

TREINAMENTO PERIGOSO

O treinamento hipóxico é potencialmente perigoso. A possibilidade da inconsciência representa um risco durante as sessões. Toda precaução é necessária. A prática do treinamento hipóxico pode provocar dor de cabeça, e esta deve desaparecer antes de 30 min.. Se, ao contrário, persistir, deve-se reduzir a intensidade desse tipo de treinamento e reiniciá-lo cautelosamente. A adaptação é individual, de modo que os progressos neste terreno devem realizar-se tendo sempre em conta essa particularidade.

É aconselhável de 25 até 50% do treinamento sob forma hipóxica, a maior parte do treinamento deve ser realizado com velocidade controlada. Recomenda-se não deixar os atletas submetidos a estímulos de velocidade utilizarem a respiração hipóxica. Em hipótese alguma, os atletas devem respirar hipoxicamente em competições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deve haver um acompanhamento médico nas sessões de treinamento hipóxico: cabe lembrar, novamente, o perigo que envolvem os exercícios com bloqueio respiratório. Não se deve tentar provar quanto tempo pode-se nadar sem respirar.

Não discutiremos aqui as várias explicações para o fenômeno. No entanto, com base nessas experiências, podemos afirmar a validade do método para mergulhadores apneístas e nadadores (Tabela), além de ser excelente atividade para o condicionamento de mergulhadores autônomos durante o inverno.


1 Com um volume pulmonar próximo da capacidade pulmonar total, se obtém um bloqueio respiratório maior
2 O bloqueio respiratório pode ser prolongado pela deglutição
3 A hiperventilação aumenta significativamente o tempo de apneia
4 A apneia estática é mais prolongada do que quando se prende a respiração ao máximo durante trabalho muscular

Tabela. Dicas de apneia do autor.


REFERÊNCIAS

(1)Tubino M. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Shape; 1980.

(2)Counsilman JE. Natacion Competitiva. Barcelona: Editorial Hispano Europea; 1977.

(3)Astrand PO, Rodahl K. Tratado de Fisiologia do Exercício. Rio de Janeiro: Editora Interamericana; 1980.

(4)Sparks, K. Physiological Response with Two Types of Interval Training Programs. Unpublished Study, Indiana University, Bloomington, Indiana, 1973-74.

(5)Hollomann W, Liesen H, editors. The influence of hypoxia and hyperoxia training in a laboratory on the cardiopulmonary capacity. International Symposium at Gravenbruch; 1971; Stuttgart. Stuttgart: Thieme; 1973.

NOTAS


(a)IMAGEM: Image by wirestock on Freepik
(b)Artigo adaptado para publicação digital, conforme normas de submissão do periódico. Versão impressa original em: Trindade R. Natação equipada ajuda atletas. Nadar Rev Bras Esp Aquat 1995; 83:12-13.


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